O ponto de partida e pilar estruturante de todo o trabalho educativo com intencionalidade pedagógica em Educação de Infância, em torno do qual se desenvolvem teorias, investigações e práticas é a imagem da criança, um conceito que tem vindo a evoluir ao longo das últimas décadas.
Em virtude das grandes mudanças sociais ocorridas durante esse período a criança, que era encarada pelos adultos como um ser dependente, passivo, mero receptor da “educação”, que lhe era transmitida sem que tivesse um papel activo nesse processo, passou gradualmente a ser perspectivada como um ser com direitos, dotado de competências próprias.
Esta recriação da imagem da criança tem sido um desafio constante no campo pedagógico, dado influenciar significativamente a forma como se desenvolvem os processos educativos. Vários pedagogos tiveram um papel relevante neste âmbito:
- Com John Dewey (1859-1952) passamos a ver a criança como um ser activo e com iniciativa; nele encontramos os fundamentos para a Metodologia de Trabalho de Projecto;
- Com Célestin Freinet (1896-1956) a criança assume-se como um ser cooperativo, que se desenvolve na relação com os outros; este pedagogo está relacionado com o Movimento da Escola Moderna;
- Em Jean Piaget (1896-1980) a criança aparece como interactiva e capaz de construir conhecimento, base do Currículo High Scope;
- Já em Loris Malaguzzi (1920-1994) a criança surge com grande capacidade criativa e investigadora, fundamentos para a metodologia de Reggio Emilia.
Assim, a imagem da criança passa de um extremo a outro e, numa perspectiva pós-moderna Oliveira-Formosinho (2008, p. 16) cita Dahlberg, Moss e Pence (1999) quando estes autores vêem a criança como “construtora de conhecimento, de identidade e de cultura (…) participante activa e co-construtora de significado, possuindo agência para levar a cabo tal participação”.
A criança emerge, pois, como um ser com voz própria, a qual deve ser ouvida e tida em conta na tomada de decisões, num contexto de escola democrática e participativa.
A Pedagogia da Infância assim defendida por Oliveira-Formosinho (2007, p. viii) reclama a criança “como ser participante, não um ser em espera de participação”, defendendo o fim de um modo de fazer pedagógico que ignore os direitos da criança a ser vista como competente e a ter espaço de participação.
No entanto, uma proposta construtivista, que aceite esta nova imagem da criança, que fale da “competência participativa e dos direitos a essa participação”, traz consigo a obrigação de promover contextos que a respeitem e sejam coerentes com as ideias defendidas.
- Oliveira-Formosinho, J., Kishimoto T. M., e Pinazza, M. A. (2007). “Pedagogias da Infância: Dialogando com o passado, Construindo o Futuro”. Porto Alegre: Artmed.
- Oliveira-Formosinho (org.) (2008). “A Escola vista pelas crianças”. Porto: Porto Editora. Colecção Infância: Educação em Jardim de Infância.
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